Mimosa é uma flor amarela que simboliza o dia internacional das mulheres. Aparentemente frágil , a mimosa com suas florzinhas delicadas, tem a força de sobreviver às intempéries do tempo , à neve e florescer linda para alegrar tantas mulheres que são presenteadas no Dia das Mulheres na Europa.
Mimosa revive uma história da luta das operárias que morreram numa manifestação em prol de direitos numa época em que as mulheres não tinham nem voz nem voto. Muitas morreram para que hoje tivéssemos alguns direitos , para que fossemos mais fortes e delicadas, com garra e sensibilidade, lutando e amando, procriando, rezando, cuidando, florescendo como flores eternas na vida da humanidade. Somos mimosas, mas fortes.
Por Marjorie Jolie
domingo, 8 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
TOUCH ME
A minha direita o KFC, “frango gostoso de verdade”,
um pouquinho mais nesse sentido,
estava cheio o Mac Donalds,
depois o Grande Muralha.
À esquerda eu nem sei,
porque meu olhar estacionou a minha frente
quando eu te percebi.
Não pude sustentar o teu
que com fome me comeu.
Um arrepio visitou o meu corpo e
disfarcei ,vencido, e desviei de ti os olhos
onde, mesmo assim, queriam ficar.
Quando decidido voltei,
já não te encontrei,
tinha desaparecido.
TOUCH ME dizia a camiseta
Da gordinha que ficou em seu lugar.
Por Mario Rezende
um pouquinho mais nesse sentido,
estava cheio o Mac Donalds,
depois o Grande Muralha.
À esquerda eu nem sei,
porque meu olhar estacionou a minha frente
quando eu te percebi.
Não pude sustentar o teu
que com fome me comeu.
Um arrepio visitou o meu corpo e
disfarcei ,vencido, e desviei de ti os olhos
onde, mesmo assim, queriam ficar.
Quando decidido voltei,
já não te encontrei,
tinha desaparecido.
TOUCH ME dizia a camiseta
Da gordinha que ficou em seu lugar.
Por Mario Rezende
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
O comboio estava quase chegando ao local onde o circo iria ficar. Logo depois de mais uma descida (eta lugarzinho pra ter sobe e desce nas estradas!). Do alto da carroceria ela o viu, estático e pensativo, parecia muito triste, sozinho num terreno baldio, logo no início de uma avenida movimentada e larga.
Ela fugiu do circo durante a madrugada, aproveitando-se da generosidade do domador que não gostava de prender os animais, principalmente aqueles que, como ela, não tinham muita facilidade de desaparecer ou causar dano à população. Ela estava com muita pena dele e tinha que ajudá-lo de qualquer maneira. Foi fácil derrubar a cerca que envolvia a área dos animais e logo estava seguindo, aproveitando a sombra das árvores enquanto a cidade estava quase toda adormecida, em direção ao local em que ela o tinha visto. Para ela não havia dificuldade, todo mundo sabe da capacidade dos elefantes em memorizar as coisas. Eles se lembram de tudo que aprendem, por isso mesmo são umas das principais atrações dos circos, nunca esquecem o que teem que fazer no momento certo. O cadeado que fechava o portão cedeu facilmente com uma leve pressão do seu imenso corpo. Ela sabia perfeitamente qual a função de portões e cadeados.
Ele estava na mesma posição em que o tinha visto, com o aspecto doentio, sofrendo, como ela logo constatou, pela ferida muito grande nas costas, com o couro rasgado, pobre coitado. Ela ficou muito penalizada ao ver uma criatura da sua mesma espécie naquela situação, abandonado pelos homens que fizeram uso dele, como faziam dela. Pensou que poderia ter o mesmo destino. Nem imaginava como seria a sua vida longe do circo. E se ficasse doente como aquele pobre animal? E resolveu ser solidária com ele. Durante dois dias ficou ali, dando o máximo de atenção a ele, alimentou-se das folhas e frutos que estavam ao seu alcance, de duas mangueiras que existiam no local. Ela estava sentindo muita sede, mas não sabia onde encontrar água. Sentia cheiro dela correndo próximo, mas não era cheiro de água limpa e estava amedrontada com o movimento de carros e do barulho infernal da cidade e resolveu ficar ali mesmo até que o pessoal do circo a encontrasse quem sabe eles poderiam ajudá-lo também. Se ela voltasse pro circo ele iria continuar ali sofrendo.
Segundo foi noticiado na imprensa local, um elefante fêmea de propriedade do circo que estava acampado na cidade, foi encontrada muito fraca, num terreno baldio dois dias após ter fugido. Estava deitada em baixo de uma mangueira, num terreno baldio ao lado das garagens do metrô, onde as escolas de samba deixam os restos de alegorias utilizadas no carnaval. Tinha lá, uma réplica perfeita de um elefante, se desfazendo com o tempo, que foi utilizada pela escola campeã do carnaval, jogada no lixo, depois de passar, deslumbrante pela avenida, para divertir os homens, assim como ela fazia no picadeiro. Escreveu o repórter.
Por Mario Rezende
Ela fugiu do circo durante a madrugada, aproveitando-se da generosidade do domador que não gostava de prender os animais, principalmente aqueles que, como ela, não tinham muita facilidade de desaparecer ou causar dano à população. Ela estava com muita pena dele e tinha que ajudá-lo de qualquer maneira. Foi fácil derrubar a cerca que envolvia a área dos animais e logo estava seguindo, aproveitando a sombra das árvores enquanto a cidade estava quase toda adormecida, em direção ao local em que ela o tinha visto. Para ela não havia dificuldade, todo mundo sabe da capacidade dos elefantes em memorizar as coisas. Eles se lembram de tudo que aprendem, por isso mesmo são umas das principais atrações dos circos, nunca esquecem o que teem que fazer no momento certo. O cadeado que fechava o portão cedeu facilmente com uma leve pressão do seu imenso corpo. Ela sabia perfeitamente qual a função de portões e cadeados.
Ele estava na mesma posição em que o tinha visto, com o aspecto doentio, sofrendo, como ela logo constatou, pela ferida muito grande nas costas, com o couro rasgado, pobre coitado. Ela ficou muito penalizada ao ver uma criatura da sua mesma espécie naquela situação, abandonado pelos homens que fizeram uso dele, como faziam dela. Pensou que poderia ter o mesmo destino. Nem imaginava como seria a sua vida longe do circo. E se ficasse doente como aquele pobre animal? E resolveu ser solidária com ele. Durante dois dias ficou ali, dando o máximo de atenção a ele, alimentou-se das folhas e frutos que estavam ao seu alcance, de duas mangueiras que existiam no local. Ela estava sentindo muita sede, mas não sabia onde encontrar água. Sentia cheiro dela correndo próximo, mas não era cheiro de água limpa e estava amedrontada com o movimento de carros e do barulho infernal da cidade e resolveu ficar ali mesmo até que o pessoal do circo a encontrasse quem sabe eles poderiam ajudá-lo também. Se ela voltasse pro circo ele iria continuar ali sofrendo.
Segundo foi noticiado na imprensa local, um elefante fêmea de propriedade do circo que estava acampado na cidade, foi encontrada muito fraca, num terreno baldio dois dias após ter fugido. Estava deitada em baixo de uma mangueira, num terreno baldio ao lado das garagens do metrô, onde as escolas de samba deixam os restos de alegorias utilizadas no carnaval. Tinha lá, uma réplica perfeita de um elefante, se desfazendo com o tempo, que foi utilizada pela escola campeã do carnaval, jogada no lixo, depois de passar, deslumbrante pela avenida, para divertir os homens, assim como ela fazia no picadeiro. Escreveu o repórter.
Por Mario Rezende
sexta-feira, 6 de março de 2009
Como encontrei Yemanjá
Como eu encontrei Yemanjá, vou te contar, nego. Vou te contar tudinho, é só você escutar com calma e carinho. Depois te faço dengo, como as ondas do mar a te acaraciar as pernas.
Foi assim no dia 02 de fevereiro, quando a lua estava quase cheia e o mar já estava cheio de oferendas recebidas e devolvidas. Quando a santa não se agrada, devolve os presentes com a correnteza. Eu tinha mal de amor e caminhava na areia para desanuviar pensamentos suicidas tipo , me enforcar no pé de coentro lá do quintal. Ligar para ele trezentas e noventa e nove vezes para ouvir que ele não me queria mais. Ligar só mentalmente, porque na real, eu não ligava mesmo, meu ego era tão grande como a lua que me lumiava. Os pés na areia fofa , meia molhada, meia seca. Combinavam com minhas lágrimas , abundantes que caiam nos meus seios, banhavam meu peito para apaziguar minha dor. Senti um cheiro de alfazema, perfume baratinho, mas danado de bom. Era um frasco que se abriu na areia, peguei um pouco nas mãos, esfreguei no rosto e nas lágrimas e Yemanjá saiu do mar e sorriu para mim. Pensei que estava sonhando, com aquela magnífica visão. Ela era mesma, mãe , doce , do mar , dos pescadores, do povo que tem coração. Ela pegou minhas lágrimas com as mãos e jogou para o mar. Secou meu rio de lágrimas e encheu o mar com ondas mais altas, que me fizeram ter medo e me sentir pequena diante do oceano e da sua magnifcência. Ela me falou de mistérios de Deus, de um Deus que não era nem orixá , nem católico. Era um Deus que não era castigo, nem pecado, nem temor. Era o Deus do oceano infinito, o Deus que multiplica os peixes e as belezas marinhas e alimenta as redes dos pescadores e nossos lares. Yemanjá , Odoyá, azul, Yemanjá. Salve, Rainha! Fez-me sorrir e rezar.
Por Marjorie Jolie
Foi assim no dia 02 de fevereiro, quando a lua estava quase cheia e o mar já estava cheio de oferendas recebidas e devolvidas. Quando a santa não se agrada, devolve os presentes com a correnteza. Eu tinha mal de amor e caminhava na areia para desanuviar pensamentos suicidas tipo , me enforcar no pé de coentro lá do quintal. Ligar para ele trezentas e noventa e nove vezes para ouvir que ele não me queria mais. Ligar só mentalmente, porque na real, eu não ligava mesmo, meu ego era tão grande como a lua que me lumiava. Os pés na areia fofa , meia molhada, meia seca. Combinavam com minhas lágrimas , abundantes que caiam nos meus seios, banhavam meu peito para apaziguar minha dor. Senti um cheiro de alfazema, perfume baratinho, mas danado de bom. Era um frasco que se abriu na areia, peguei um pouco nas mãos, esfreguei no rosto e nas lágrimas e Yemanjá saiu do mar e sorriu para mim. Pensei que estava sonhando, com aquela magnífica visão. Ela era mesma, mãe , doce , do mar , dos pescadores, do povo que tem coração. Ela pegou minhas lágrimas com as mãos e jogou para o mar. Secou meu rio de lágrimas e encheu o mar com ondas mais altas, que me fizeram ter medo e me sentir pequena diante do oceano e da sua magnifcência. Ela me falou de mistérios de Deus, de um Deus que não era nem orixá , nem católico. Era um Deus que não era castigo, nem pecado, nem temor. Era o Deus do oceano infinito, o Deus que multiplica os peixes e as belezas marinhas e alimenta as redes dos pescadores e nossos lares. Yemanjá , Odoyá, azul, Yemanjá. Salve, Rainha! Fez-me sorrir e rezar.
Por Marjorie Jolie
MEDITAÇÃO
Hora do rush... sobem quatro picos em meu peito
Hora do arrocho... dez mil batimentos por segundo
Hora da crise.... cem mil dólares a menos na conta da minha esperança
Hora da tpm... milhares de células de cortisona
Hora da verdade... meditar e ser
Hora do silêncio... sem números, só reticências.
Por Marjorie Jolie
Hora do arrocho... dez mil batimentos por segundo
Hora da crise.... cem mil dólares a menos na conta da minha esperança
Hora da tpm... milhares de células de cortisona
Hora da verdade... meditar e ser
Hora do silêncio... sem números, só reticências.
Por Marjorie Jolie
segunda-feira, 2 de março de 2009
PAIXÃO
Escrever para mim é paixão, só consigo escrever como um arroubo flamejante, tem que vir como um relâmpago que toca a minha cabeça no centro... tipo um transe, quanta pretensão. Mas hoje sem querer plagiar a deliciosa Elizabeth Gilbert ( não,não sou gay, ela é deliciosa de ser lida) quero relatar a minha grande paixão ou melhor as minhas grandes paixões.
Trinta e seis anos, perdida na vida, acabando um relacionamento tumultuado, pensando que não sofria por causa do término, afinal eu não o amava mesmo, mas caí num poço tão fundo sem lanternas, precisei de toda a criptonita do mundo e do além mundo para submergir daquele subterrâneo de Hades, subornei ele com uma boa dose de súplicas e choros no kit, mas sai, ainda machucada e com pânico, com medo de viver. Uma neurótica autêntica e solteira.
Pois é, me apaixonei outra vez, me apaixonei pela Itália. Penso que toda mulher com mais de 30 anos e algumas doses de desilusão no currículo deveria viajar para a Itália e de asa delta, voando livre. Porque a Itália é maravilhosa.
Estava em 2005 na minha terceira viagem internacional, uma amiga da minha amiga iria me receber no aeroporto em Roma, no avião não senti pânico, meu pânico é sazonal e safado. Adoro um avião, sinto que se morrer , vou ter uma morte magistral e morrerei instantaneamente então, só relax. O aeroporto em Madrid, Barajas, este me causou um tsunami em toda a minha alma. O aeroporto é uma cidade e os espanhóis de Madrid, não são digamos, gentis. São xenófobos e eu com minha tez mulata tupiniquim, solto aos olhos para eles. Eles não tem interesse em ser cordiais, muito pelo contrário. Quando você pede uma informação se esforçando no seu espanhol ensaiado no guia 7 dias, espanhol super express, o interlocutor responde com arraigado sotaque para procurar a polícia, porque não está ali para te dar informações. Eu que viajei me sentindo a própria Pocahontas, uma princesa brasileira ou coisa e tal, era confundida com venezuelana (ops ,s erá que eu pareço com a Shakira?) ou mexicana, deve ser porque adoro cores ou porque não tenho bumbum redondo e o rebolado da passista de escola de samba.
Mas eu sobrevivi ao Barajas, eu que não tenho uma bússola, nem um norte, sou a pessoa mais desorientada geograficamente do mundo, consegui pegar a escala para a Roma. Eu saí do inferno e fui ao paraíso. Roma é um paraíso. Para mim , eu adoro aqueles carros , aquelas vespas atravessando as longas avenidas, diante daqueles monumentos pomposos. Eu adoro ouvir o italiano nos meus ouvidos, adoro o tão trivial e quiçá hipócrita: "ciao bella", que quero ficar eternamente em Roma. Na sua temperatura quente , parecendo o Brasil, era setembro, quero mais um gelato delicioso, que escorre pela minha língua, dedos, e roupas e eu não estou nem aí. Estou em Roma!!!!! A amiga da minha amiga, muito simpática , me instalou no apartamento do professor orientador do seu doutorado em Perugia, o professor Vicenzo, que no início eu pronunciava como brasileira e depois aprendi a sonoridade deliciosa de transformar o c em tch e o nome saia tão gostoso como uma buona pasta com pomodoro e basílico, translate, como uma boa massa com tomate e manjericão. O apartamento era totalmente inusitado, parecia que eu tinha andado para trás no relógio do tempo, parecia que aquele imóvel tão cheio de história havia me tragado no túnel do tempo e eu tinha voltado a minha encarnação passada, o elevador feito gaiola, os móveis tão antigos, a cama que parecia da minha bisavó, o rádio retrô, o aquecedor estupendo que me fazia sentir quentinha como uma velhinha agasalhada tricotando no final da tarde. E a amiga da minha amiga, não era minha amiga, foi muito amiga em me receber e me informar, que infelizmente não poderia ficar comigo, eu ficaria sozinha em Roma.
Parecia que o bicho papão do pânico queria encostar, mas quando deitei naquela cama quietinha me senti tão em casa que ele foi passear em outro lugar, afinal Roma encanta até ele, tanto que deve ter saído apressado para passear enquanto eu dormia.
Acordei cedo para ir ao Colosseo, Coliseu, pegar metrô, eu sou da Bahia, pego busú, aqui ainda não chegou metrô , não, quiçá daqui a dez anos, mas me arvorei a pegar o metrô de Roma, olha que minha quase amiga me deixou os números do ônibus e guias com mapas que eu não sabia olhar, nem queria. Estava perdidamente apaixonada, mal podia respirar de tanto desejo. Desejo de desbravar aquela cidade que agora era toda minha e com a liberdade de uma criança em estado infantil agudo. Cheguei no Colisseo e aquelas falas em italiano no Metrô para indicar cada parada me deslumbravam de tão lindas. Santa Maria Novella, que lindo!!!! Parecia que eu estava na minha novela da globo. Na época tinha os cabelos muito longos e pretos, parecia até a Jade de uma novela global tipo marroquina, abri meus braços com as relíquias do Forum Romano atrás, abri meus braços para minha escolha de liberdade. Abri os braços para uma foto onde estava verdadeiramente feliz e o Colisseo tão enorme e esplendoroso me fez sentir imortal, forte como ele que atravessa séculos ali, impetuoso, não ligando para ninguém, só sendo. Andei, andei, porque em Roma você caminha muito, caminha , caminha, se bate em outros turistas de todo o mundo. Se bate em japoneses em grupos grandes com câmeras poderosas e com roupas de grife, se bate com branquelos que devem ser de lugares sem sol e que tem o direito de uma vez na vida sentirem nos seus rostos pálidos toda a alegria do sol de Roma fazendo-os corar como uma maravilhosa pizza bene mangiata, pizza bem comida. Foi a mudança crucial da minha vida. Comer em Roma, não foi comer perto do Vaticano onde eles fazem aquela comida para turista Pedro Bó. Foi atravessar para o bairro histórico dos operários ,atravessar a ponte para a Trastevere e comer uma bela bruschetta com tartuffo, e sentir orgasmo tão explosivo , passando a comer aquilo tão lentamente, para que não acabasse aquela felicidade nunca. E tomando um bichiere, uma taça de vinho da casa, tinto, rosso como se diz em italiano. Que paixão! Eu quando me apaixono sou obsessiva como toda maluca sem diazepan. Eu queria Roma o tempo todo, eu queria respirar Roma, eu queria resplandecer na estupenda piazza Venezia, queria tomar banho na Fontana de Trevi como a Rita Haywort, eu queria morrer e viver ali para sempre. Eu não estava sozinha, não, eu estava comigo mesma e feliz. Uma das poucas vezes que eu tinha uma companhia tão agradável, eu mesma, poderia tomar o gelatto , antes de comer e ninguém estava olhando, nem mesmo minha mãe,nem ex marido, podia tomar outro gelatto depois, rir sozinha de tanto prazer, porque gelatto deveria ser geamatto, ge amado. Em Roma fui confundida com indiana, com tailandesa, acho porque estava no meu estado zen fosforescente. E ainda não tinha descoberto o prosecco, minha paixão mais fiel. Mas me sentia explodindo como todas as bolinhas do espumante na taça e depois no céu da boca, delirante.Sou uma errante, naõ tenho carro de luxo, casa de luxo, mas tenho uma vida louca de luxo, e fui a Roma cinco vezes, sempre gozando muito no final, no meio e sempre. Ai, como te amo Roma, i love you forever.
Por Marjorie Jolie
Trinta e seis anos, perdida na vida, acabando um relacionamento tumultuado, pensando que não sofria por causa do término, afinal eu não o amava mesmo, mas caí num poço tão fundo sem lanternas, precisei de toda a criptonita do mundo e do além mundo para submergir daquele subterrâneo de Hades, subornei ele com uma boa dose de súplicas e choros no kit, mas sai, ainda machucada e com pânico, com medo de viver. Uma neurótica autêntica e solteira.
Pois é, me apaixonei outra vez, me apaixonei pela Itália. Penso que toda mulher com mais de 30 anos e algumas doses de desilusão no currículo deveria viajar para a Itália e de asa delta, voando livre. Porque a Itália é maravilhosa.
Estava em 2005 na minha terceira viagem internacional, uma amiga da minha amiga iria me receber no aeroporto em Roma, no avião não senti pânico, meu pânico é sazonal e safado. Adoro um avião, sinto que se morrer , vou ter uma morte magistral e morrerei instantaneamente então, só relax. O aeroporto em Madrid, Barajas, este me causou um tsunami em toda a minha alma. O aeroporto é uma cidade e os espanhóis de Madrid, não são digamos, gentis. São xenófobos e eu com minha tez mulata tupiniquim, solto aos olhos para eles. Eles não tem interesse em ser cordiais, muito pelo contrário. Quando você pede uma informação se esforçando no seu espanhol ensaiado no guia 7 dias, espanhol super express, o interlocutor responde com arraigado sotaque para procurar a polícia, porque não está ali para te dar informações. Eu que viajei me sentindo a própria Pocahontas, uma princesa brasileira ou coisa e tal, era confundida com venezuelana (ops ,s erá que eu pareço com a Shakira?) ou mexicana, deve ser porque adoro cores ou porque não tenho bumbum redondo e o rebolado da passista de escola de samba.
Mas eu sobrevivi ao Barajas, eu que não tenho uma bússola, nem um norte, sou a pessoa mais desorientada geograficamente do mundo, consegui pegar a escala para a Roma. Eu saí do inferno e fui ao paraíso. Roma é um paraíso. Para mim , eu adoro aqueles carros , aquelas vespas atravessando as longas avenidas, diante daqueles monumentos pomposos. Eu adoro ouvir o italiano nos meus ouvidos, adoro o tão trivial e quiçá hipócrita: "ciao bella", que quero ficar eternamente em Roma. Na sua temperatura quente , parecendo o Brasil, era setembro, quero mais um gelato delicioso, que escorre pela minha língua, dedos, e roupas e eu não estou nem aí. Estou em Roma!!!!! A amiga da minha amiga, muito simpática , me instalou no apartamento do professor orientador do seu doutorado em Perugia, o professor Vicenzo, que no início eu pronunciava como brasileira e depois aprendi a sonoridade deliciosa de transformar o c em tch e o nome saia tão gostoso como uma buona pasta com pomodoro e basílico, translate, como uma boa massa com tomate e manjericão. O apartamento era totalmente inusitado, parecia que eu tinha andado para trás no relógio do tempo, parecia que aquele imóvel tão cheio de história havia me tragado no túnel do tempo e eu tinha voltado a minha encarnação passada, o elevador feito gaiola, os móveis tão antigos, a cama que parecia da minha bisavó, o rádio retrô, o aquecedor estupendo que me fazia sentir quentinha como uma velhinha agasalhada tricotando no final da tarde. E a amiga da minha amiga, não era minha amiga, foi muito amiga em me receber e me informar, que infelizmente não poderia ficar comigo, eu ficaria sozinha em Roma.
Parecia que o bicho papão do pânico queria encostar, mas quando deitei naquela cama quietinha me senti tão em casa que ele foi passear em outro lugar, afinal Roma encanta até ele, tanto que deve ter saído apressado para passear enquanto eu dormia.
Acordei cedo para ir ao Colosseo, Coliseu, pegar metrô, eu sou da Bahia, pego busú, aqui ainda não chegou metrô , não, quiçá daqui a dez anos, mas me arvorei a pegar o metrô de Roma, olha que minha quase amiga me deixou os números do ônibus e guias com mapas que eu não sabia olhar, nem queria. Estava perdidamente apaixonada, mal podia respirar de tanto desejo. Desejo de desbravar aquela cidade que agora era toda minha e com a liberdade de uma criança em estado infantil agudo. Cheguei no Colisseo e aquelas falas em italiano no Metrô para indicar cada parada me deslumbravam de tão lindas. Santa Maria Novella, que lindo!!!! Parecia que eu estava na minha novela da globo. Na época tinha os cabelos muito longos e pretos, parecia até a Jade de uma novela global tipo marroquina, abri meus braços com as relíquias do Forum Romano atrás, abri meus braços para minha escolha de liberdade. Abri os braços para uma foto onde estava verdadeiramente feliz e o Colisseo tão enorme e esplendoroso me fez sentir imortal, forte como ele que atravessa séculos ali, impetuoso, não ligando para ninguém, só sendo. Andei, andei, porque em Roma você caminha muito, caminha , caminha, se bate em outros turistas de todo o mundo. Se bate em japoneses em grupos grandes com câmeras poderosas e com roupas de grife, se bate com branquelos que devem ser de lugares sem sol e que tem o direito de uma vez na vida sentirem nos seus rostos pálidos toda a alegria do sol de Roma fazendo-os corar como uma maravilhosa pizza bene mangiata, pizza bem comida. Foi a mudança crucial da minha vida. Comer em Roma, não foi comer perto do Vaticano onde eles fazem aquela comida para turista Pedro Bó. Foi atravessar para o bairro histórico dos operários ,atravessar a ponte para a Trastevere e comer uma bela bruschetta com tartuffo, e sentir orgasmo tão explosivo , passando a comer aquilo tão lentamente, para que não acabasse aquela felicidade nunca. E tomando um bichiere, uma taça de vinho da casa, tinto, rosso como se diz em italiano. Que paixão! Eu quando me apaixono sou obsessiva como toda maluca sem diazepan. Eu queria Roma o tempo todo, eu queria respirar Roma, eu queria resplandecer na estupenda piazza Venezia, queria tomar banho na Fontana de Trevi como a Rita Haywort, eu queria morrer e viver ali para sempre. Eu não estava sozinha, não, eu estava comigo mesma e feliz. Uma das poucas vezes que eu tinha uma companhia tão agradável, eu mesma, poderia tomar o gelatto , antes de comer e ninguém estava olhando, nem mesmo minha mãe,nem ex marido, podia tomar outro gelatto depois, rir sozinha de tanto prazer, porque gelatto deveria ser geamatto, ge amado. Em Roma fui confundida com indiana, com tailandesa, acho porque estava no meu estado zen fosforescente. E ainda não tinha descoberto o prosecco, minha paixão mais fiel. Mas me sentia explodindo como todas as bolinhas do espumante na taça e depois no céu da boca, delirante.Sou uma errante, naõ tenho carro de luxo, casa de luxo, mas tenho uma vida louca de luxo, e fui a Roma cinco vezes, sempre gozando muito no final, no meio e sempre. Ai, como te amo Roma, i love you forever.
Por Marjorie Jolie
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